"Kriseide", por Samuel da Costa

 

‘’Naquela manhã de aragem fresca...de vento feliz.

Só o vento podia tocá-la,

                  Se bem que eu queria, mas ela não quis...’’

Vivaldo Terres

 

Para Delta Maria de Souza Maia(em memória) e João Carlos Pereira(em memória)  

 

Era um tanto inusitado, o jovem promotor não combinava em nada com o bar do Garrafão e isso era um fato. Ao adentrar no recinto, Missael Da Maia não notou os olhares furtivos e estupefatos dos que ali frequentavam. Os fregueses do bar, em sua maioria trabalhadores do mar e da construção civil, e algumas figuras fácies bem comuns do submundo. Olhavam o indivíduo ainda de terno e gravata, de pele morena e os olho ligeiramente puxados como se fosse um animal exótico. E uma olhada rápida pelo local, o promotor, encontrou a final quem estava procurando. O policial militar estava jogando cartas, em um canto do bar. O promotor notou que o policial militar era o único branco no lugar. Era quase isso, havia também uma jovem mulher de pele alvíssima e olhos claros no fundo do bar. Ela parecia alheia aos palavreados chulos, o barulho que saia da jukebox, o cheiro de álcool e de cigarro barato do lugar.

- Uma cerveja, por favor! Pede o ‘’doutor Da Maia’’ ao sentar junto ao balcão, tive ímpeto de tirar do bolso uma cigarreira de couro importada e acender em um  gesto teatral.

O dono do bar não esconde o nervosismo ao atender o inusitado freguês.

- O que ‘’tu’’ quer vindo ai? Pergunta de forma áspera o dono do bar, antecipando a pergunta de algum ‘’habitue’’ do recinto, questionou Missael dessa forma para evitar algo bem pior.

- Doutor Da Maia, o que veio fazer neste covil de bestas? Era o soldado Silverinha, que vieram acudir o jovem promotor. Deixara a jogatina a dinheiro, e também por diversão, para ver o que aquele ‘’guri’’ queria de fato ao adentrar naquele recinto.

- Eu só queria tomar uma cerveja, e mais nada soldado...

- Hora doutor ‘’tu’’ não ‘’ta’’ no tribunal, o expediente acabou faz tempo! Oh Garrafão manda a cerveja que o meu amigo pediu, na mesa de fora, manda também dois copos.

O que passou na cabeça do promotor naquele momento, foi como seu velho pai, que nascera em Angola e andara meio mundo, sempre em áreas de conflito, sobrevirá a lugares como aquele ou piores ainda. Estar ali, era também uma forma de entender o seu velho pai, entrar no mundo do seu progenitor. Missael de repente lembra de uma advertência do velho Aristo: - Meu filho, antes de tudo procure entender as pessoas, e só assim meu filho, vás encontrar o teu lugar nesse mundo. Senão compreenderes as outras pessoas, não te compreenderas a si mesmo. E de fato compreender o pai era um mistério para Missael. E procurá-lo em lugares como aquele, mesmo que de forma inconsciente, era uma forma desespera de encontrar a si mesmo e seu lugar nesse mundo. E foi com o frescor da noite na frente daquele bar no bairro periférico que Missael começou sua procura desesperada para entender o seu pai e a si mesmo. Foi quando a mulher que estava no fundo do bar decidiu sair de onde estava, caminhou pelo bar sem que ninguém a importunasse. Passou ao lado do soldado Silveira e Missael, deixando um perfume forte de flores no ar. Saiu porta afora como se flutuasse e desapareceu em meio à noite escura sem olhar para trás, como se fosse um fantasma. Missael ficou angustiada com aquela figura, queria ir atrás dela a fazer mil perguntas. Mas ficou com medo não das perguntar, mas das respostas que aquela criatura etérea poderia lhe dar.        

- O que o senhor quer comigo doutor, por que veio me procurar aqui?

- Quem disse que vim te procurar, soldado?

- Olha doutor, ‘’to’’ a um ‘’tempão’’ trabalhando na polícia, estou vivo e muito bem a um bom tempo nessa minha profissão, e por isso não me trate como um qualquer por favor...

Missael deu uma risada alta, chamando a atenção de todos para os dois, sentada à mesa no lado de fora do bar.

- Algum problema tenente? Quem perguntava era Sebastião ainda com o taco de sinuca na mão. O pescador com sua cor de ébano e dois metros de altura não intimidou Missael.

 - Nada Tião, meu amigo mal começo a beber e parece que ‘’ta’’ bêbado.

Foi o suficiente, para que todos começarem rir menos Missael que se fechou em uma cara de poucos amigos.

- Sabe de uma coisa? O teu apelido por ai é Japa, o teus amigos engravatas te chamam assim meu caro doutor...-Disse isso e começou a rir com uma criança. Silveira estava em seu habitat natural, ali não era um soldado. A disciplina de quartel não cabia ali, muito menos a lógica dos tribunais. Missael começou em fim a percebe e a entender as pessoas.        

- Minha mãe é da etnia Wapixana, meu pai é africano, tenho tanto quanto mais direito de frequentar esse bar exclusivo, só para nativos, seu branquelo palmito desgraçado. - O tom de voz de Missael não agradou Silveira.  

- Olha doutor, olha bem para o Tião, quando entrei nesse bar pela primeira vez, ele queria me matar. Ele não gostou que um estranho, de um branco azedo como eu aparecer por aqui por essas bandas, entendeu meu caro doutor Japa, este é um dos poucos lugares aonde gente engravatada não manda!

- ‘’To’’ começando a ficar comovido soldado!- Missael não media as palavras que dizia, o álcool já fazia efeito em sua mente.

 - Só não me partiu em dois, por causa do taxista que me trouxe aqui pela primeira vez, ainda posso ver a confusão e o sujeito dizer: - Não bate no tenente’’. Era meu primeiro dia na cidade e eu ‘’tava’’ a paisana. Sabe o que eu disse para o Tião depois que ficamos amigos? O que um branco senão um negro virado do avesso!

- Que história comovente...    

- Queria saber o que tu ‘’quer’’ comigo doutor, vou te perguntar de novo. Por que veio aqui atrás de mim?

- Como o Fábio Ramos morreu?

- Tu ‘’quer’’ saber como aquele safado morreu? É só ler o inquérito e o autos do processo doutor, porque nos jornais não saiu nada!

- Hora não foi isso que eu perguntei soldado Silveira, perguntei como foi que o promotor que eu substituo morreu?

- Kriseide era o nome dela, um raio de sol no meio da escuridão caro amigo. Dizem que quando ela passava deixava um rastro. Cheiro de flores, outra coisa que o povo conta, é que ela era cigana ou filha de ciganos, coisa assim. Olhos claros e pele branca igual a uma cera, rosto perfeito...ainda quer ouvir o resto doutor?

Missael estava um pouco apreensivo com o rumo da conversa, estava preparado para tudo, menos para aquilo. Esses assuntos em cidades pequenas em geral eram coisas delicadas. Não sabia o rumo que iria tomar a conversa ‘’informal’’. Mas decidiu ir enfrente com coisa toda, não poderia seguir sem saber aonde estava se metendo.

- Quero sim, quero saber de tudo!

 O policial militar não sabia, e não tinha como saber, mas Fábio e Missael estudaram juntos na universidade e eram bons amigos. Foi Fábio que o convenceu a fazer o concurso para promotor. Ambos fizeram, e Fábio tirou em primeiro lugar, Missael em segundo.    

- Essa mulher esquisita, que tinha o péssimo hábito de fazer os homens se apaixonar por ela. Acabou se casando com o nego Acácio, foi um alívio para as mulheres casadas e para as solteiras também. E um desespero para alguns homens casados e solteiros. O teu colega de ofício era um desses desesperados, e não gostou muito de ver aquela beldade com um negro qualquer.- o Soldado para de falar e bebe um gole de cerveja, bebia como para tomar fôlego -. Então um dia o jovem promotor possesso decidiu acabar com a coisa toda, com aquela afronta. O promotor Fábio saiu do fórum, dizem, passou naquele bar ‘’chiquetoso’’ no centro da cidade tomou uma e outras, e foi atrás do o nego Acácio para tomar satisfação. Ele foi encontrar o Acácio na casa dele, ai dizem que o doutor Fábio acabou matando o pobre coitado, matou o nego Acácio com as próprias mãos. O resto o senhor já sabe, creio eu?A fuga, as quarenta e oitos horas, a detensão, curso superior, cela especial, o habias corpus, processo, família influente, absolvição...      

- Nossa! Não li metade disso nos autos...

- Novidade caro doutor Japa?O que esperava ler?

- E a mulher? O que aconteceu com ela?

- É ai que a porca torce o rabo meu bom doutor Japa, alguns dizem que ela se matou, já outras preferem dizer que ela pegou um barco qualquer e sumiu em auto mar. O negócio foi que a mulher desapareceu como por encanto após o nego Acácio ter morrido.

- Mas isso não explica o fato...

- Não explica com o seu colega de trabalho, ter apareceu morto dias depois do julgamento não é? O jovem promotor apareceu morto na casa dele, tenha um buraco na cabeça...o engraçado caro amigo doutor Japa era o cheiro quase insuportável de flor no lugar. Ai cada pessoa sentia um cheiro diferente de flor! Parecia um suicídio, não encontraram as digitais na arma que encontram ao lado do corpo...  

- Essa mulher será que está morta mesmo? Missael sente a garganta seca ao fazer a perguntar para o soldado.

- Olha! Com esses anos todos de polícia que tenho nas costa, eu não me engano meu caro amigo doutor Japa. Deve estar morta sim, mas o que fica na cabeça das pessoas é o que importa. E a imagem dela que todos têm é daquela criatura...criatura...- O soldado tenta encontra a palavra certa mas não encontra.

- Etérea...que andava como se flutuasse...e o cheiro de flores que exalava quando caminhava, os olhos claros e a pela branca com uma cera!    

- Kriseide era uma mistura de anjo e demônio meu caro amigo doutor ‘’Japa’’! Era um mistério materializado em um corpo de mulher.   

Tópico: "Kriseide", por Samuel da Costa

a vida sua como ela é

um presente para vc.

...

Os passos insistentes do mistério rondou toda sua história Samuel, um caso em que no contexto, evitam-se confrontar o que vê e o que não vê. Mas com os segundos ao final, ainda respira-se as dúvidas. Tais que ninguém ousa descobrir... Ou talvez sim... Bem, é um bom conto, porém com pensamentos um tanto aleatórios. Obrigada.

Re:...

Influência do simbolismo meu caro

Comentário

Gostei do conto, o tema foi legal, mas não havia terror. Foi uma conversa, e não me assustou. Também há o fato dos erros de ortografia. O autor devia entender para escrever.
Essa é a minha opinião!

Re:Comentário

pois é, Luigi... além de não saber escrever, ainda usa o nome de alguém que sabe escrever, pra queimar o filme do verdadeiro Samuel da Costa. O verdadeiro nunca escreveria porcaria como essa. Acessem o site do Samuel da Costa de verdade: www.frent.info

Re:Re:Comentário

Pois é : na verdade quem escreveu sabe escrever , faz a descrição dos fatos reais e do imaginário . Neste sentido, estou crente que foi escrito por Samuel Costa , sendo que sua dúvida grosseira é típica de alguém realmente com pouco acesso à obra , digo , às obras de Samuel , o qual inicia se revelando , na prosa , ter um futuro promissor . Portanto meu caro , respeito , muito respeito é o que futuramente deve ter quando se refere a alguém com Samuel "Congo" Costa .

Re:Re:Re:Comentário

Sou de Itajaí Santa Catarina

Re:Comentário

Esse é um fragmento de uma novela, concordo tenho que prestar maior atenção na hora de escrever e revisar meus textos.

Re:Comentário

Vou colocar mais sangue na próxima vez. Já comprei um livros de gramática com nova ortografia.

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