"A Partida de um Anjo", por Jhayde Rose

 

    Foi fácil fisgá-la. Pensei que seria árduo, mas quis jogar um pouco, subestimar sua inteligência. Quis ver até quando se passaria por inocente.
    Algo que sei é que ela adorava flores. Ela realmente amava flores. Quando estávamos juntos, eu fazia questão de lembrá-la o quanto a amava mandando diariamente ramalhetes com as mais belas flores e era incrivelmente fabulosa a maneira de como fingia gostar.
    A Nick realmente gostava de flores. Chegava a dar pulos de alegria quando as recebia. Do lado de fora da janela estava eu entre os arbustos vendo aquele lindo sorriso até ele ser quebrado,trocado por pena,dó.Enquanto ela lia o nome de que a presenteava,seu contentamento ia aos poucos se dissipando.Isso doía diariamente em mim.Por que que ela teve que complicar as coisas. Ela merecia.
    Eu raramente me arrependo. Não iria ceder agora. Não por ela. Então pra compensar o dinheiro gasto em flores, gastei os 60% restante do meu salário recebido por dar aulas de reforço de química em também flores, só que com outra finalidade.
    No colégio, dois horários antes do intervalo, eu fiz uma vereda de flores da porta de sua classe até o corredor principal que ficava uns três andares antes. Aquilo havia de ter ficado lindo. Um tapete para uma princesa. No caso um anjo. Eu mandei chocolates - outra coisa que ela amava - com um dos mais caprichados bilhete que já fiz chamando-a até mim anonimamente.
    O devido trabalho com a decoração era pra garantir que ela viesse. Eu confio em sua candura. Quem eu não confio é em seus amigos cheios de malícia e cobertos de inveja.
    Vagarosamente ela descia as escadas. Envolvida por completo de curiosidade e ainda com um pouco de receio, ela continuava a descer. Parecia está totalmente hipnotizada pelas flores. No fim da linha, uma mesa forrada com um pano vermelho a esperava. Eu pensei que por sua enorme curiosidade, ela não demoraria a chegar. Isso me custou tempo.
    Ela se aproximou da mesa e avistou uma caixinha. Eu havia deixado lá o que seria nosso símbolo de compromisso. Foi quando a peguei por traz. Pessoas que acreditam ser servas de algo que até hoje não se encontra provas de sua existência - e ela deixava mais do que claro que era uma boa cristã - são inutilmente fracas. Sua fé a tornava uma das mais pobres criaturas.Então não foi nada complicado agarrá-la.
    Coloquei um tipo de armadilha que não lembro bem o nome e que aparentava ser uma boca cheia de dentes em seus pulsos. É das que eu usava pra caçar com meu pai quando ele ainda era vivo. Nicole estava com os pulsos unidos, estendidos e presos e ela segurava o anel. Eles começaram a sangrar e manchar aquele vestido lindo que a fazia aparentar um anjo. Eu rasguei o vestido e fiz o que não tive chance quando éramos namorados. Ela começou a gritar e gemer. O sangue começou a formar uma poça no chão. Ela levantou a cabeça olhando pra cima. Eu vi aqueles lindos olhos chorarem brilhando junto a iluminação do corredor. Ela não agüentava mais de dor implorando pela morte. Notei que em nenhuma vez ela pediu ajuda ao todo poderoso.Talvez estava sensata o suficiente pra saber que não tinha saída. Não comigo. Foi quando ouvi seu ultimo suspiro acompanhado do som que fez o anel quando caiu no chão.

Tópico: "A Partida de um Anjo", por Jhayde Rose

Nenhum comentário foi encontrado.

Novo comentário