"A Amizade", por Viviane Stivanim

Eliane, assim que recebeu o telefonema de Kátia, foi correndo para o apartamento da amiga. Ao chegar tocou a campainha e foi recebida por Gustavo. Cumprimentaram-se com beijos no rosto e Eliane recebeu um abraço bastante apertado.

- Obrigada mesmo, Eliane.
- Ora, Gustavo, não precisa agradecer.
- Preciso sim, Você tem se mostrado uma pessoa extremante do bem. Depois de tudo o que aconteceu você ainda se dispõe a nos ajudar neste momento...
- Combinamos que seríamos amigos, lembra? Então, os amigos são para essas coisas!

Gustavo olhou para o rosto de Eliane e emocionou-se. Ela era, sem duvida, um ser humano extraordinário.

- Kátia está lá dentro e eu já estou atrasado para o trabalho.
- Ok. Vá com Deus e qualquer coisa, avisaremos a você.

Já no quarto, Kátia estava próxima à cama de seu filho, Luan.

- Ele está bem? – Eliane disse baixinho para não acordar a criança.
- Ah, Eli, obrigada por ter vindo. Ele teve outra crise de dor e eu não soube o que fazer. De repente, após eu ter te ligado, ele parou de gritar e dormiu. Dessa vez não expeliu sangue.
- Então vamos deixa-lo em paz. Que tal um café?

As duas saíram do quarto e foram para a cozinha preparar um café fresco e conversar. Kátia precisava desabafar, estava sob muita pressão nestes últimos dias e Eliane estava sendo como uma verdadeira irmã para ela.

- Sabe, Eliane, me sinto muito envergonhada quando olho para você. Achei que quando Gustavo lhe contasse tudo seríamos eternas rivais, pensei que você me odiaria para todo o sempre...
- Olha, Kátia, não vou negar que fiquei emputecida quando soube. Afinal, o casamento estava marcado e os preparativos prontos. Deu um trabalhão cancelar tudo e ainda estou com processo na justiça devido à quebra de alguns contratos. Mas o coração é terra que ninguém pisa e o Luanzinho não tinha culpa de nada. Se quiser saber mesmo a verdade eu achei o máximo a decisão do Gustavo!
- Como assim, Eliane? Ele era seu noivo e tinha um relacionamento comigo!
- Eu sei. Mas ele não conseguia mais ficar longe do filho e, por isso tomou a decisão certa. O Luan precisava do pai por perto, é muito pequenino, completou dois aninhos, tadinho...
- É, eu sei. Mas desde que ele resolveu assumir a mim e ao filho a saúde do Luan caiu. E essas crises, meu Deus? Não entendo...
- Calma, Kátia! Os médicos vão descobrir o que está acontecendo com ele. Tenha fé!
- Essa situação já se estende por seis meses. – Kátia já estava em lágrimas – Acho que é castigo por ter me metido com homem de outra. Não sei quanto tempo mais podemos suportar.
- Não chore, querida. – Eliane abraçou sua amiga – Tudo ficará bem e aguentaremos o tempo que for preciso.
- Já sei que seu apoio é incondicional, Eli, mas e o Gustavo? Quando ele te deixou e viemos morar juntos, tivemos apenas três meses de alegria e felicidade, como um casal normal. Desde que o menino ficou doente e as crises foram se tornando mais frequentes, não temos mais nos entendido bem. Há meses não fazemos amor e ele tem passado tempo demais no trabalho.
 - Não pense besteiras, Kátia. O Gustavo está estressado e sente impotente diante da doença do filho. Não o julgue achando que ele a está enganando...
- Mas ele fez isso com você...
- Sim, mas neste momento é só no Luan que Gustavo está pensando.
- Ás vezes eu penso que não deveria ter tido o Luan. Deveria ter deixado o Gustavo viver em paz com você, eu o pressionei muito para que assumisse a paternidade.
- Não se arrependa de ter tido o menino, Kátia. Ele é uma benção!

Eliane ficou mais um pouco no apartamento de Kátia e depois foi embora.

Ao fim daquela tarde, seu telefone celular tocou e era Gustavo.

- Acabei de falar com a Kátia e o Luan está calmo, sem dores. Meu filho tem sofrido muito, Eliane!
- Eu sei, mas vocês dois podem contar comigo para o que for preciso.
- Ah, como me arrependo de ter feito tudo o que fiz! Eu acho que é castigo de Deus por tê-la magoado, sabe? Não se pode ferir um anjo... Eu juro, por tudo que é mais sagrado, que se meu filho se curar eu me separo da Kátia para fazer as coisas certas. – Após o silêncio ele prosseguiu- Se você ainda me quiser, eu me separo da Kátia e me caso com você.
- Só o aceitarei de volta se você ainda me amar e jamais por um juramento seu desesperado.
- Mas eu te amo, Eliane! Por tudo o que foi e está sendo para mim. Depois de tudo o que aconteceu, me perdoou, ficou amiga de minha amante e ainda usa seus conhecimentos de enfermagem para cuidar do meu filho. Nunca encontrarei outra mulher como você, nunca!

Conversaram mais um pouco. Quando desligou o telefone. Eliane tinha uma expressão diferente em seu rosto, uma expressão de vitória e satisfação.

Foi até seu quarto e abriu o guarda roupas, tirou de lá uma caixa pequena e negra. De dentro da caixa tirou um bonequinho também pequeno, até lembrava uma criança, e começou a retirar as agulhas que estavam  fincadas no boneco. Uma a uma...

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Como faço pra entrar em contato com autora?
Será que ela me permitiria fazer uma HQ desse conto pra postar no meu Facebook?

"A Amizade" de Viviane Stivanim

Viviane tem a magia de uma contista infantil, embora seus textos nos leve a pensar (e, de fato pensamos) numa mulher adulta por detrás dos trabalhos que escreve. Em 'A amizade', por exemplo, ela se mostra solta, senhora de si, dona da situação. Afora isso, sabe prender o leitor do começo ao fim. Seus trabalhos são pequenos, rápidos, ligeiros; qualquer pessoa os lê num folego só. Capciosa, brutal, inocente, meiga, faz do terror um conto de fadas, embora não acredite em papai noel e bichos papões. Todavia, talvez seja esse não acreditar, a sua melhor marca. A que, quando nos toca, deixa impressa suas digitais.

livros

~nossa,adoreiii,,,
mto bom...

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