"Conectado à Morte", por Róbson Melo

          Já   passava da meia noite quando Juliana resolvera deitar-se. Na televisão a programação estava um “porre” e a única coisa que restava era dormir, mesmo que estivesse sem sono naquele momento. Mas antes de ir pra cama Juliana não aguentou a curiosidade em saber se em seu Orkut alguém havia lhe deixado uma mensagem – não sei por que tanta gente tem prazer em ver o número de recados crescendo.

           Sentada na sua cadeira almofadada em cor rosa clicou no link “Orkut” na tela do Google. Já tinha prática nisso, pois fazia mais ou menos umas 20 vezes por dia, 140 por semana. Na tela de início o número de recados era o mesmo de duas horas atrás. Nada de convites a serem aceitos também. Olhando do lado inferior direito da tela viu que o relógio marcava quinze para uma da manhã. Seus olhos ainda continuavam secos e sem sono. Então resolveu olhar em sua caixa de e-mail. Na caixa de entrada viu que tinha recebido alguns novos: uma de sua amiga Lívia pedindo pra que não se esquecesse de levar o esmalte “cor de pitanga” no dia seguinte; outro de um site de vendas de produtos japoneses; e o terceiro de um remetente não conhecido com o endereço 030685@270801.com. Já era acostumada a receber e-mails e spams estranhos, porém achou esse mais que estranho que os de costume. Pensou em um vírus. Claro, hoje em dia é o que mais se vê. O assunto da mensagem estava em branco por isso não fazia a mínima ideia do que se tratava. A curiosidade foi maior. Clicou no link da mensagem e uma nova janela se abriu naquele momento. Esperou dois segundos até que a página carregasse por completo. Algo estranho veio aos seus olhos. A nova página tomou toda a tela do computador com a cor preta. Uma mensagem em letras grandes e vermelha surgiu: “PARA JULIANA COM CARINHO”. Uma onda de suspense invadiu o quarto. Em suas narinas pôde sentir mais forte o resultado do ar condicionado no máximo. “Seria uma brincadeira do Michael?”, pensou - Michael era seu colega de turma que não perdia a oportunidade de lhe pregar uma peça online. De repente um cronômetro de trinta segundos veio ao centro da tela, logo abaixo da estranha mensagem. Automaticamente os números iam surgindo enquanto o desespero e a dúvida tomavam a mente de Juliana. 30, 29, 28, 27... Com grande agonia levantou-se da cadeira e procurou desesperadamente uma maneira de fechar na tela aquela maldita página. 18, 17, 16, 15... Mas não adiantava. Parecia que tinha travado tudo e só os números funcionavam. 5, 4, 3, 2, 1, 0... Um vídeo surgiu. Fixados na tela, os olhos de Juliana pareciam congelados. Suas pupilas dilataram.

              Estranhas imagens começaram aparecer. Eram trechos de vídeo amadores de suicídios. Fora de si Juliana começou a andar para trás até cair sentada em sua cama. Mas seus olhos não se desligaram daquelas imagens. O primeiro vídeo era de um homem de mais ou menos 30 anos. Estava de bermuda, sem blusa e de pés descalços. O lugar parecia ser seu próprio quarto, pequeno e bagunçado. Uma cadeira se destacava no centro do quarto. Olhando melhor o vídeo podia-se ver algo mais acima. Parecia a ponta de uma corda. Com movimentos lentos o homem subiu na cadeira e puxou a suposta corda. Realmente era uma corda. Envolveu-a no pescoço magro e pondo o pé mais acima da cadeira derrubou-a. Juliana levou as duas mãos à boca. Sua garganta tampara, pois sua voz não podia sair de dentro do peito. O homem do vídeo estava dependurado e tranquilamente parado, até que suas pernas começaram a mover-se desesperadamente tentando encontrar novamente a cadeira. Sacudidas e movimentos bruscos. Silêncio. A morte já havia tomado o espírito daquele infeliz.

            Segundo vídeo. Grossas lágrimas nasciam dos olhos de Juliana. Uma mulher vestida com uma camisola de cetim vermelho e com uma beleza de atriz de filmes hollywoodianos. Estava em um belo banheiro. Dirigiu-se até uma banheira que estava sendo cheia. Tirou sua camisola brilhante num jeito sensual. Nua e de costas entrou na banheira. Mergulhou todo o corpo na água até não se conseguir mais vê-lo. Dado momento, voltou ofegante passando as mãos pelo rosto. Olhou para a beirada da banheira ao seu lado esquerdo e segurou um objeto. Era uma Gillette. Encostou-a no pulso direito e fechou os olhos. Num rápido movimento cortou o pulso. O sangue pingava e escorria pela banheira branca. Novamente se afagou na banheira. Agora por mais tempo enquanto a água mudava a coloração. Juliana levantou-se e se aproximou mais perto da tela. Seus olhos e nariz estavam vermelhos. Chorava e em seu rosto não havia nenhuma feição. Saiu correndo do quarto sem fechar a porta. A mulher era sua mãe.



                                          Epitáfio:
          “Teu exemplo de vida estará em nós para sempre e nosso amor por ti é inabalável. Porque quem crê em Deus renasce na esperança.”

                                Joana Vieira Claranto
                         † 03.06.1985    * 27.08.2001

Tópico: "Conectado à Morte", por Róbson Melo

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Mt bom.... eu amei :D

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Ora,ora,ora... Cada um com seus caprichos. Bem, um bom autor descreve da maneira mais ilustre possível... Humm... Certamente ninguém espera por uma tese assim. Porém o ar medonho dá valor aos olhos de quem ler... Cavalheiro, seu conto desperta temor na sociedade juvenil... Bom conto meu caro, bom conto... Obrigada.

bom...

foi bom. mas aposto que posso fazer bem melhor ki isso!

conto

Gostei mesmo
Parabens!

Demais

Nossa, gostei muito, eu nunca imaginaria um fim assim.

esse testo

muito massa

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