As Ruínas, de Scott Smith
Atualmente tem sido um tanto complicado encontrar livros de suspense e de terror com uma história original e, obviamente, de qualidade. Muitos autores partem de uma mesma premissa, um acontecimento semelhante a algo que os leitores já leram. Foi por esse motivo que As Ruínas, de Scott Smith, me chamou a atenção. Aparentemente a obra trazia uma trama tensa e original. Li, sem muita expectativa, afinal, não queria esperar muito dessa questão. Mas eis que As Ruínas surpreende e no final das contas acabei colocando o livro como um dos melhores do gênero lançados nos últimos 10 anos.
Trata sobre um grupo de amigos americanos - Jeff, Amy, Eric e Stacy - que passam férias em Cancún, no México. Em meio as diversões conhecem um trio de gregos e um alemão chamado Mathias. E é justamente a história deste alemão que dá início aos problemas que se seguem. Segundo Mathias, seu irmão Henrich conheceu uma arqueóloga e foram até certas ruínas escondidas na floresta da cidade de Cobá, acabando por não darem mais notícias. Por esse motivo, pretende ir até lá encontrá-los. A perspectiva de aventura instiga o grupo, que resolve acompanhá-lo. Um dos gregos também gosta da ideia e se une a eles.
Chegando nas intocadas ruínas, o grupo é surpreendido por uma tribo de maias que a princípio pedem para que fossem embora. Mas, quando Amy ultrapassa o terreno e toca o solo que corresponde ao lado mal da ruína, os maias mudam o tom e os obrigam a permanecerem e subirem uma ruína em forma de triângulo, onde o mato a cobre completamente. Aos poucos são cercados por centenas de maias armados, fazendo impossível qualquer tentativa de escapar. Se sair dali a princípio é impossível, então o grupo é obrigado a pensar em como racionar comida, água e suportar o calor até acharem um meio de contornar a situação. Mas o problema é que oculto nas ruínas está um inimigo mortal, causador de toda a intrigante reação dos maias, e que assim como eles não os deixaria sair nem mesmo se pudessem.
Esse é apenas o ponto de partida para uma história incrivelmente intensa, um terror psicológico de alto nível. As Ruínas contém um clima de tensão constante, fazendo o leitor sentir na pele os medos, as frustrações e o desespero do grupo, imaginando como eles sobreviverão àquela situação. É incrível como o autor transporta para o leitor a sensação de enclausuramento. Isso aflige a todo o momento, sem contar que são diversas as cenas fortes, que podem enojar quem possui estômago mais fraco.
A construção psicológica dos personagens também é um ponto muito positivo. De tão bem construídos, a certa altura sabemos como cada um irá reagir a uma provocação ou situação. Sem contar que em outros momentos, sentimos raiva da postura de alguns deles e torcemos para que outros se dêem melhor. Ou seja, isso só prova a extrema capacidade de Scott Smith em criar personagens. A questão é que conhecemos todos os pontos de vista, já que a narrativa está sempre mudando de personagem para personagem, o que nos aprofunda ainda mais a cada um deles.
A trama em si é muito bem amarrada, sem furos e com a evidente capacidade do autor em despertar a curiosidade a todo o momento, o que faz o leitor querer continuar lendo mesmo com os capítulos longos, o que em outras obras poderia ser caracterizada como um ponto negativo e sinônimo de leitura cansativa. Também importante destacar que o livro segue uma constante do início ao fim. Embora seu início apenas situe o leitor sobre a ideia e o trajeto da chagada às ruínas, a partir do momento em que o suspense começa, não para em momento algum.
As Ruínas é uma grata surpresa em meio a diversos livros de suspense/terror existentes por aí. Possui uma história original, um inimigo nunca antes visto e uma trama muito bem amarrada. O leitor sem dúvida não largará até saber como o grupo - ou parte dele - saíra das ruínas. Se é que vão sair...
Altamente recomendado!