À Espera de um Milagre, de Stephen King
Poucas histórias são capazes de despertar sentimentos intensos. Ou melhor, poucas histórias conseguem lhe encher de sentimentos dos mais diversos possíveis, dos piores aos melhores. E um exemplo disso é "À Espera de um Milagre". A raiva, a angústia e a frustração estão lá, impregnados como um câncer cruel. Mas, mais do que isso, somos presenteados com o a alegria, o amor e a comoção, que estão lá como uma forma de esperança. Não a esperança que vai decidir o destino de alguém para melhor, mas a esperança que diz que ainda há esperança para o ser humano.
O livro conta a história de Paul Edgecombe, um idoso que hoje vive em um asilo e que a única coisa que o mantém vivo são as lembranças dos tempos em era o guarda encarregado pelo Corredor da Morte da Penitenciária de Cold Mountain. Lá, foram muitos os momentos ruins, mas houveram também momentos intensos e uma delas em especial não lhe sai da memória: a de John Coffey, um negro de dois metros de altura acusado de assassinar duas irmãs. E é com essa premissa que Paul resolve contar tudo, tudo o que lhe corroi por dentro. Dá-se início ao espetáculo de mortes violentas, ódio pela injustiça e incapacidade de mudar algo já estipulado. E como não poderia deixar de ser, dá-se início à mágica, a lição de vida e a emoção extrema.
Narrado todo em primeira pessoa por Paul, a narrativa é extremamente agradável. Inexistem os momentos de descrições desnecessárias. Tudo é escrito na medida certa e com o intuito de colocar o leitor para dentro da penitenciária, vivenciando a maldade de algumas pessoas - que utilizam a fragilidade dos detentos para alimentar o sadismo interior e autoridade que possuem -, e bondade de outras - que acreditam que todos que lá estão já pagam e vão pagar pelo que cometeram.
A verdade, é que a história de Jonh Coffey fica em segundo plano nas três primeiras partes - são seis no total -, com o autor fazendo o leitor se inteirar inicialmente com os acontecimentos da prisão antes da chegada de John até, então, com as coisas durante sua estadia. E ainda assim, o grandalhão aparece pouco. Mas vale destacar que nas vezes em que aparece são momentos impagáveis. (Assim como é impagável a presença de um certo Sr. Guizos no ambiente da prisão).
Honestamente, é difícil não se emocionar com a história, ainda mais no momento em que se encaminha para o final. Acho que se não tiver arrancado lágrimas de um leitor, essa pessoa pode ter problemas. Ou é muito dura com a vida. Ou já começam a ler livros com a ideia de que é uma ficção e portanto não vale a pena se apegar tanto. Porque esse livro foi feito para trazer sensações e as lágrimas são inevitáveis, ou mesmo aquele frio no estômago. Mas cada um é cada um.
Stephen King quando quer consegue escrever obras belíssimas e que marcam. Consegue deixar um vazio pelo apego às situações e seus personagens. "À Espera de um Milagre" ficará marcado na minha memória, sem dúvida, e só lamento que tudo tenha acabado. De fato, uma das melhores histórias que já li.